A Pelagra esteve sempre associada a milho ou outros cereais, grãos nativos da América e alimento principal dos índios americanos. Com as viagens de Cristóvão Colombo, o milho foi levado para a Europa, despertando, inicialmente, apenas o interesse de ervanários curiosos sobre as propriedades medicinais das plantas. Todavia, a meio do séc. XVII, pelo menos um ervanário, de Caspar Bauhinus, observou que o grão podia ter efeitos nocivos ao invés de propriedades medicinais benéficas à saúde se consumido em grandes quantidades, tendo sido publicado postumamente, em 1658, em Basel, a descrição de uns rapazes de Guineas que assaram e comeram os grãos, ao invés de pão, e acabaram com a pele tão vermelha como se tivesse sido queimada.
Desvalorizada a advertência, as vantagens do milho eram óbvias, garantindo a sua expansão para lá dos jardins botânicos da Europa, chegando então aos campos rurais. O cultivo fácil e a proliferação da sua produção tornaram-no preferido ao trigo, cevada e milho-miúdo. Assim, no final do séc. XVIII, o milho crescia largamente na Itália, e a partir daí expandiu para a outrora Iugoslávia, para a França, Áustria e Hungria. Aqui, o governo incentivou ativamente a sua produção porque, por um lado constituía o alimento principal para os camponeses, e por outro a sua larga produção trazia grandes dízimos para os cofres reais.
A Pelagra foi identificada pela primeira vez por um médico da corte real Espanhola, Don Gaspar Casal, em 1735, na cidade de Oviedo, nas Astúrias. Aí, Casal começou por reparar numa espécie de Leprose que os camponeses chamavam mal de la rosa, e por ser tão horrível, achou por bem explicar as suas características, surgindo então a primeira descrição da doença: extrema fraqueza da vítima, sensações de queimadura, crostas na pele, e melancolia. O médico Espanhol percebeu ainda que os que padeciam do mal viviam à base de milho, enfatizando que a rosa poderia ser tratada adicionando à alimentação leite, queijo, e outros alimentos raramente vistos pelos mais pobres. Thièry, médico francês a trabalhar então na corte Espanhola, leu o manuscrito de Casal e escreveu então uma descrição breve da doença para um jornal Francês, publicado em 1755. O livro de Casal, publicado apenas em 1762, três anos após a sua morte, tem a secção em que discute o mal de la rosa separada das outras doenças, contém a única ilustração do volume, e é escrita em Latim, ao invés de Espanhol. No espaço de dez anos, a doença foi também detectada na Itália onde lhe foi então dado o nome de Pelagra, por Frapolli.
Conhecimentos de casos de Pelagra em Espanha são escassos após o relatório de Casal, mas no séc. XIX a doença propagou-se de forma agressiva pelo norte de Itália e sudoeste de França. Em 1817, um médico Inglês que se encontrava de visita a Milão percebeu que cerca de 66% dos internados numa instituição mental eram pelagrosos.
Théophile Roussel, médico francês, na sua visita a Espanha nos anos 1840 deparou-se com uma falta de relatórios sobre a doença que o deixou perplexo, tendo-se ainda percebido que algumas doenças chamadas por vários outros nomes eram na verdade casos de Pelagra, o que o levou a publicar um relatório sobre o assunto. Os médicos Espanhóis ficaram descontentes com esta interferência estrangeira nos seus casos medicinais, mas a insistência de Roussel na existência de uma unidade endémica de doenças tipo-Pelagra foi um passo evolutivo no país.
Olhando para trás, percebe-se de que forma a pelagra se expandiu de mãos dadas ao cultivo de milho. A culpa da doença não era do grão em si, mas antes das condições sociais e econômicas inerentes às classes mais pobres da população que se viam forçadas a uma dieta cada vez mais monótona. Na Espanha, por exemplo, a Pelagra surgiu numa região onde a antes próspera criação de ovelhas merinas tinha perdido a sua influência por volta de 1758, e os camponeses foram deixados a tratar das suas vidas conforme conseguissem. Na Itália, o mezzadria, um sistema de posse de terras, ajudava ao empobrecimento dos camponeses, visto que metade das suas colheitas se destinavam a pagar a renda ao proprietário rural. No sul de França, o milho não representava uma colheita importante até o séc. XVIII já ir avançado, e a sua produção não foi muito explorada nos arredores de Paris até 1829, altura em que surgiu o primeiro relato de Pelagra no país. Os camponeses que padeceram da doença eram inicialmente pastores de ovelhas cuja terra era pobre, e o dinheiro e comida tão escassos que se alimentavam exclusivamente por vegetais. Os Franceses tiveram mais sorte que os seus vizinhos: beneficiaram do trabalho de Roussel, o qual acreditava vigorosamente que a Pelagra se devia a alimentações com base no milho, o que encorajou reformas que visavam melhorar o fornecimento de alimentos e as condições de trabalho e vida dos camponeses. Roussel escreveu dois livros sobre a Pelagra, sendo que o segundo, publicado em 1866, dizia que o problema da doença seria resolvido através do progresso social, e não por descobertas científicas. A sua argumentação persuadiu o governo Francês que diminui assim a cultivação de milho para a alimentação humana encorajando antes a criação de animais. Com o virar do século, a Pelagra já tinha virtualmente desaparecido da França.
Algumas pessoas aceitavam a idéia da doença ser causada pelas condições económicas, outras não tinham essa capacidade. Esta teoria do milho como prejudicial à saúde foi usada para explicar como é que a Pelagra acabou em Yucatan em 1882, aquando da destruição das colheitas de cereais pelos gafanhotos. Assim como o ressurgimento da doença com a importação do cereal de Nova Iorque, que voltou então a ser utilizado como alimento dos mais pobres. Quando as colheitas tornaram a falhar no séc. XX, o cereal foi de novo importado para Yucatan, e novamente se deram surtos destrutivos de Pelagra.
Aqueles que não se convenciam de que os cereais eram os responsáveis pela Pelagra, pensavam que a hereditariedade tomava também parte no desenvolvimento da doença, que a má qualidade do ar era responsável, ou que o mal era causado por algum organismo não-visível, um vírus. Mas no século XIX a maioria dos que acreditavam que o mal era a alimentação baseada no milho conseguiram triunfar junto dos governos, persuadindo-os com sucesso significativo a agir com vista ao corte no consumo de cereais, como feito originalmente na França.
Desvalorizada a advertência, as vantagens do milho eram óbvias, garantindo a sua expansão para lá dos jardins botânicos da Europa, chegando então aos campos rurais. O cultivo fácil e a proliferação da sua produção tornaram-no preferido ao trigo, cevada e milho-miúdo. Assim, no final do séc. XVIII, o milho crescia largamente na Itália, e a partir daí expandiu para a outrora Iugoslávia, para a França, Áustria e Hungria. Aqui, o governo incentivou ativamente a sua produção porque, por um lado constituía o alimento principal para os camponeses, e por outro a sua larga produção trazia grandes dízimos para os cofres reais.
A Pelagra foi identificada pela primeira vez por um médico da corte real Espanhola, Don Gaspar Casal, em 1735, na cidade de Oviedo, nas Astúrias. Aí, Casal começou por reparar numa espécie de Leprose que os camponeses chamavam mal de la rosa, e por ser tão horrível, achou por bem explicar as suas características, surgindo então a primeira descrição da doença: extrema fraqueza da vítima, sensações de queimadura, crostas na pele, e melancolia. O médico Espanhol percebeu ainda que os que padeciam do mal viviam à base de milho, enfatizando que a rosa poderia ser tratada adicionando à alimentação leite, queijo, e outros alimentos raramente vistos pelos mais pobres. Thièry, médico francês a trabalhar então na corte Espanhola, leu o manuscrito de Casal e escreveu então uma descrição breve da doença para um jornal Francês, publicado em 1755. O livro de Casal, publicado apenas em 1762, três anos após a sua morte, tem a secção em que discute o mal de la rosa separada das outras doenças, contém a única ilustração do volume, e é escrita em Latim, ao invés de Espanhol. No espaço de dez anos, a doença foi também detectada na Itália onde lhe foi então dado o nome de Pelagra, por Frapolli.
Conhecimentos de casos de Pelagra em Espanha são escassos após o relatório de Casal, mas no séc. XIX a doença propagou-se de forma agressiva pelo norte de Itália e sudoeste de França. Em 1817, um médico Inglês que se encontrava de visita a Milão percebeu que cerca de 66% dos internados numa instituição mental eram pelagrosos.
Théophile Roussel, médico francês, na sua visita a Espanha nos anos 1840 deparou-se com uma falta de relatórios sobre a doença que o deixou perplexo, tendo-se ainda percebido que algumas doenças chamadas por vários outros nomes eram na verdade casos de Pelagra, o que o levou a publicar um relatório sobre o assunto. Os médicos Espanhóis ficaram descontentes com esta interferência estrangeira nos seus casos medicinais, mas a insistência de Roussel na existência de uma unidade endémica de doenças tipo-Pelagra foi um passo evolutivo no país.
Olhando para trás, percebe-se de que forma a pelagra se expandiu de mãos dadas ao cultivo de milho. A culpa da doença não era do grão em si, mas antes das condições sociais e econômicas inerentes às classes mais pobres da população que se viam forçadas a uma dieta cada vez mais monótona. Na Espanha, por exemplo, a Pelagra surgiu numa região onde a antes próspera criação de ovelhas merinas tinha perdido a sua influência por volta de 1758, e os camponeses foram deixados a tratar das suas vidas conforme conseguissem. Na Itália, o mezzadria, um sistema de posse de terras, ajudava ao empobrecimento dos camponeses, visto que metade das suas colheitas se destinavam a pagar a renda ao proprietário rural. No sul de França, o milho não representava uma colheita importante até o séc. XVIII já ir avançado, e a sua produção não foi muito explorada nos arredores de Paris até 1829, altura em que surgiu o primeiro relato de Pelagra no país. Os camponeses que padeceram da doença eram inicialmente pastores de ovelhas cuja terra era pobre, e o dinheiro e comida tão escassos que se alimentavam exclusivamente por vegetais. Os Franceses tiveram mais sorte que os seus vizinhos: beneficiaram do trabalho de Roussel, o qual acreditava vigorosamente que a Pelagra se devia a alimentações com base no milho, o que encorajou reformas que visavam melhorar o fornecimento de alimentos e as condições de trabalho e vida dos camponeses. Roussel escreveu dois livros sobre a Pelagra, sendo que o segundo, publicado em 1866, dizia que o problema da doença seria resolvido através do progresso social, e não por descobertas científicas. A sua argumentação persuadiu o governo Francês que diminui assim a cultivação de milho para a alimentação humana encorajando antes a criação de animais. Com o virar do século, a Pelagra já tinha virtualmente desaparecido da França.
Algumas pessoas aceitavam a idéia da doença ser causada pelas condições económicas, outras não tinham essa capacidade. Esta teoria do milho como prejudicial à saúde foi usada para explicar como é que a Pelagra acabou em Yucatan em 1882, aquando da destruição das colheitas de cereais pelos gafanhotos. Assim como o ressurgimento da doença com a importação do cereal de Nova Iorque, que voltou então a ser utilizado como alimento dos mais pobres. Quando as colheitas tornaram a falhar no séc. XX, o cereal foi de novo importado para Yucatan, e novamente se deram surtos destrutivos de Pelagra.
Aqueles que não se convenciam de que os cereais eram os responsáveis pela Pelagra, pensavam que a hereditariedade tomava também parte no desenvolvimento da doença, que a má qualidade do ar era responsável, ou que o mal era causado por algum organismo não-visível, um vírus. Mas no século XIX a maioria dos que acreditavam que o mal era a alimentação baseada no milho conseguiram triunfar junto dos governos, persuadindo-os com sucesso significativo a agir com vista ao corte no consumo de cereais, como feito originalmente na França.
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